Temos realmente as casas mais caras do que podemos comprar? Preços sobem ao dobro do ritmo do rendimento das famílias

O mercado imobiliário em Portugal vive um período marcada pelo preço elevado dos imóveis, a que acresce uma constante escalada constantes nas taxas de juro que afetam o crédito habitação, uma tempestade perfeita que coloca muitos pontos de interrogação na vida dos portugueses.

André Manuel Mendes
Julho 27, 2023
0:07

O mercado imobiliário em Portugal vive um período marcada pelo preço elevado dos imóveis, a que acresce uma constante escalada constantes nas taxas de juro que afetam o crédito habitação, uma tempestade perfeita que coloca muitos pontos de interrogação na vida dos portugueses.

De acordo com um policy paper publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), que procura responder a um conjunto de tópicos fundamentais e que estão, atualmente, no centro da atualidade do setor imobiliário português, a pandemia da Covid-19 causou em 2020 uma contração do PIB sem precedentes em Portugal de 8%, mas os preços das casas em termos reais subiram 8% nesse ano, e o rendimento disponível das famílias foi pouco afetado no contexto de medidas de assistência implementadas durante a pandemia .

Durante esse ano as políticas públicas de apoio salvaguardaram o rendimento das famílias tendo-se verificado mesmo um aumento dos novos empréstimos para aquisição de habitação.

No entanto, a inflação elevada e a subida das taxas de juro que ocorreram em 2022 deverão ter alterado as decisões de consumo das famílias, sobretudo as de menores recursos, verificando-se, efetivamente um menor recurso ao crédito à habitação a partir da segunda metade do ano passado com menos novos empréstimos e mais amortizações.

“As famílias das classes mais baixas de rendimentos (apesar de menos endividadas) estão mais vulneráveis que as restantes ao agravamento das condições de financiamento porque têm uma taxa de esforço (peso do crédito à habitação no total de rendimentos) bastante mais elevada que as outras”, considera a FFMS.

No entanto, explica o idealista à Executive Digest, “mesmo num clima de alta inflação e de subida em flecha das taxas de juro nos créditos habitação, as famílias continuam a comprar casa em Portugal. Este contexto, a par do encarecimento dos custos de construção agravado pela guerra, tem levado à revisão dos orçamentos das empreitadas e ao atraso na colocação de mais casas no mercado”.

Por outro lado, acrescentam, que mesmo com os juros dos empréstimos da casa a escalar e a habitação a registar preços mais altos em algumas cidades, as famílias continuam a comprar casa, ainda que com mais cautela. “Todo este cenário faz com que a procura de casas no nosso país supere a oferta”.

“Tudo isto se reflete-se nos preços das casas, uma vez que no segundo trimestre do ano, subiram 2,2%, segundo aponta o índice de preços do idealista. Este é um cenário visível em quase todo o território português, já que as casas ficaram mais caras em 12 capitais de distrito, entre abril e junho. No final do mês de junho deste ano, comprar casa tinha um custo de 2.481 euros por metro quadrado, tendo em conta o valor mediano nacional”, explicam.

Por outro lado, o mercado de arrendamento em Portugal ganhou força em 2022 e continuará a crescer em 2023. Com os portugueses a terem cada vez mais dificuldade em comprar casa, devido aos altos preços dos imóveis, à alta inflação e à subida a pique dos juros no crédito habitação, há cada vez mais famílias a procurar casa para arrendar em Portugal como solução habitacional. Mas também este mercado está a ficar cada vez mais caro, devido à falta de oferta, tendo subido 6,1% no segundo trimestre de 2023 face ao trimestre anterior.

 

Preço das casas subiu ao dobro do ritmo do rendimento das famílias

Os dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos destacam que os preços dos imóveis estão a subir acima da inflação há dez anos. No entanto, o mesmo não se verifica com os rendimentos reais das famílias portuguesas, que sobem a metade do ritmo.

Os dados mostram que, se um jovem casal quiser comprar casa numa freguesia mais barata de Lisboa ou do Porto, é preciso que estes pertençam à classe dos 60% mais ricos na capital e dos 80% mais ricos no Porto.

Para além disso, o valor de “entrada” para comprar casa disparou de 2017 até 2022, passando de 30 mil euros para 56 mil euros no concelho de Lisboa, e de cerca de 16 mil euros para 37 mil euros no concelho do Porto.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.